domingo, 10 de fevereiro de 2013

TEMPO QUE NÃO VOLTA

O Carnaval chegou. Reinado do momo é alegria, ilusões passageiras, que duram apenas quatro dias de uma felicidade irreal. Há muito, não brinco e não me alegro mais com a festa.
Adorava os carnavais do passado. Eram mais alegres, românticos e criativos. As marchinhas embalavam corações. Samba? Só no Rio, pela televisão.
Carnaval, hoje, me dá tristeza. O som dos tamborins já me fez sentir alegria, num passado que não mais existe e que hoje é só memória.
Será que os carnavais de antigamente eram, de fato, mais alegres ou sou eu que estou mais velho e não consigo sentir alegria nos carnavais de hoje?
Talvez tenham sido os meus olhos que mudaram. Mudaram por causa da saudade. Toda saudade é uma espécie de velhice. O Carnaval é alegre como sempre foi, apesar da violência e da sua reconfiguração.
Mas eu, porque estou ficando velho e cheio de saudade, não consigo sentir a sua alegria.
Por isso, recorro ao clausulo de minha casa, distante do barulho dos festejos momescos de 2013. Mas, convenhamos, o Carnaval de antigamente era mais alegre.
Tinha mela-mela, bailes, paixões alucinadas e corsos. Os carros desfilavam pelas ruas, em meio às máscaras e fantasias, sob uma chuva de serpentinas e confetes.
Garoto sonhador em uma Montes Claros ainda cidade acanhada e sem tanta violância, não perdia um. Adorava os bailes do Automóvel Clube e dos desfiles de blocos e escolas de samba na avenida Coronel Prates. Hoje nada disso existe mais.
Os desfiles são eventos institucionalizados, programados, comercializados e cronometrados. Antigamente os corsos eram folias democráticas e abertas.
Sinto saudade também das marchinhas. Meu coração batia feliz ao ritmo tranquilo da marchinha. Quando o povo se lembra da alegria dos carnavais de antigamente, são as marchinhas que são cantadas. Quer provas?
“Mamãe eu quero, mamãe eu quero, mamãe eu quero mamar...”
“Se você fosse sincera, ô ô ô ô, Aurora,
Seja só que bom que era, ô ô ô ô, Aurora.
Um lindo apartamento com porteiro e elevador,
e ar refrigerado para os dias de calor,
madame antes do nome, você teria agora, ô ô ô ô, Aurora...
Tem mais:
“Ó jardineira por que estás tão triste?
O que é que foi que te aconteceu?
Foi a camélia que caiu do galho, deu dois suspiros,
depois morreu...
Quem não se lembra ainda de “O teu cabelo não nega, mulata”? A lista é enorme. A gente sabia as letras de cor e salteado, porque estavam no coração, no coração das pessoas alegres, apaixonadas.
“A estrela Dalva
No céu desponta
e a lua anda tonta
com tamanho esplendor.
E as pastorinhas, pra consolo da lua, vão cantando na rua
lindas coisas de amor.
Linda pastora, morena, da cor de Madalena,
Tu não tens pena de mim,
que vivo tanto o teu olhar.
Linda criança,
tu não me sais da lembrança,
meu coração não se cansa
de sempre e sempre te amar.
E já que estamos dando um mergulho no túnel do tempo dos carnavais de antigamente, que eram realmente mais alegres, puros, sem violência, gostosos de brincar e sem estresses, lembrei-me de “A máscara negra”, um clássico.
“Tanto riso, oh! Quanto alegria,
Mais de mil palhaços no salão,
Arlequim está chorando pelo amor da Colombina
No meio da multidão.
Foi bom te ver outra vez
Está fazendo um ano
Foi no carnaval que passou.
Eu sou aquele Pierrô
Que te abraçou
Que te beijou, meu amor.
A mesma máscara negra
Que esconde o teu rosto
Eu quero matar a saudade.
Vou beijar-te agora,
Não me leve a mal,
Hoje é carnaval”.
Quanta saudade! Não, não é coisa de velhice, não! Isso é beleza. Os carnavais de antigamente alegravam meus olhos, meus ouvidos, meu nariz, minha pele.
Beleza é coisa da leveza, leveza da alma. Nossos corações se embriagavam com a beleza dessas marchinhas que reproduzi acima. Tem coisa mais linda?
Por isso, saudoso prefiro distância do momo. Sem trabalho também. Ao longo dos próximos três dias, enquanto você, caro leitor, estiver se esbaldando neste Carnaval que não mais me alegra, estarei em frente ao computador, contemplando e ouvindo marchinhas de Carnaval do passado.
Mais uma vez, bom Carnaval e até quarta-feira de Cinzas!
 

Um comentário:

  1. Adorei! Eu era muleca, 16 anos... Lembro do carnaval do interior de Goiás, tocando essas marchiinhas... Aprendi a gostar com minha mãe e até hoje trago tudo isso em meu coração. Lendo seu post, viajei no tempo e senti saudades... Abs.

    Flávia

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