Durante o meu almoço de hoje, em um restaurante aqui próximo
ao local onde trabalho, encontrei-me com uma amiga de longa data e após uma
rápida conversa com ela tive a ideia de escrever um inventário sobre
frustração.
Ela está em crise com uma frustração profissional, das
grandes!
Encomendou-me um ensaio a respeito e aqui está a tentativa.
Eu mesmo arrumei metáforas para as minhas frustrações de
forma que ficasse mais fácil pensar a respeito.
E são tantas na vida....
Nem sei onde começam.
Na sala de parto talvez?!
Quando viemos ao mundo, cumprindo milhões de expectativas
alheias e já aprendendo a tê-las.
Blogs começam em frustrações.
O problema pode morar aí: expectativas.
Junto com elas estão ilusões, fantasias, inocência, uma
vontade tamanho família de crer - no outro, em coisas, em lugares e na vida.
Tipo pizza 12 pedaços... gigante!
O que acontece é que às vezes vêm 12 pedaços cortados tão
injustamente pequenos que, apesar de serem 12, não são suficiente para todas as
pessoas.
Aí algumas se frustram.
Sem contar que, quando fazemos o pedido, imaginamos um palmito
delicioso, com um molho fantástico, coberta com uma mussarela fininha, etc.
E pode ser que venha, que seja suficiente para todos, mas
seja um palmito meio duro, um molho pomarola e uma mussarela engorduradíssima.
Sem gosto, sem graça, cara e que, portanto, não preenche
nossas expectativas e desejos mais genuínos.
Sim, o problema da frustração me parece mesmo começar com
expectativas.
Em relacionamentos afetivos é comum ouvirmos logo no início
"não crie expectativas e tudo vai bem".
Como?
Porque eu faria algo, qualquer coisa, sem esperar nada dela?
Qual a razão do esforço, do investimento, do tempo, beijos
ou estudo dedicados?
O problema sabemos.
E a solução?
Sou ninguém para sugerir e menos ainda definir algo a
respeito.
Mas fico aqui imaginando que uma ideia razoavelmente boa
seria ter um equilíbrio.
Esperar na medida certa.
Não é fácil, eu sei.
Costumamos esperar na medida em que oferecemos.
Se oferecemos muito, esperamos demais.
Troca que parece mais que justa.
Quando oferecemos pouco e ganhamos pouco, ficamos felizes,
nos sentimos satisfeitos e justiçados.
Aí, tenho que observar que é importante saber dar pouco.
Eu particularmente não sei...
Ou então oferecer um pouco, receber, depois oferecer mais um
pouco, ir observando e avaliando, revendo as doses de tudo na situação.
Frustração dói.
Quase não consigo separar a palavra frustração de traição.
Seu amor te traiu, você se frustra porque esperava mais dele
e da relação.
O chefe te traiu, você se frustra porque afinal se doou tanto,
que erroneamente deixou outras coisas da sua vida de lado.
A vida te trai e você fica tentando pensar porque mereceu o
câncer da sua mãe, a morte do pai, ou a falência da família.
Acho que está mais do que claro que a coisa toda não é uma
questão de merecimento.
Até porque não somos juízes para julgar quem merece e quem
não.
E também não temos juízes com muito juízo, não é?
Além do mais, percebo outra expectativa aí: juízes deveriam
ser pessoas justas, mas antes de juízes são pessoas.
Pessoas - todas - têm expectativas, desejos, erros e vontade
enorme de acertar, falhas, uma coleção de pedidos de desculpa a serem feitos e,
na maior parte das vezes, não sabem o que fazer.
A parcialidade incomoda, por isso é fácil receber conselhos
de quem está de fora.
Só que queremos receber coisas de quem está dentro da
situação, porque esperamos.
Por que criamos um cenário e nossa mente projeta o futuro de
tal forma que muitas vezes esquecemos de viver intensamente - e apenas - o dia
de hoje.
Quando ganharmos R$ 3 mil por mês, quando terminarmos de
pagar o carro, quando o seu filho puder ir à escola, quando a mulher voltar a
trabalhar, quando ela finalmente reconhecer tudo que faço, quando eu entrar na
academia, quando eu for contratado para aquele sonhado emprego.
Está sempre lá.
Por isso sofremos, porque o lá nunca chega.
E também porque fazemos para ter resultado e não o
contrário: temos resultados porque fazemos.
Não se pode deixar de lado outro detalhe.
É certo que algumas pessoas proporcionam que tenhamos
expectativas e esperanças a respeito de algo que já sabem que provavelmente não
poderão cumprir.
Ok, isto é fato.
A presidente da República talvez aja assim, os namorados
talvez ajam assim, os chefes agem assim.
Está em cada um de nós querer realizar o outro em suas expectativas
e está no outro a vontade de confiar.
Porém, para que alguém nos faça acreditar em coisas que não
vão acontecer, precisamos permitir.
Deixamo-nos seduzir ao invés de pensar!
Ponderação, razão x emoção e a capacidade, unida ao talento
de poucos, em enxergar as coisas como elas são.
Cést la vie.
Acabei me
lembrando dos Rolling Stones: I can´t get no satisfaction...
And I try,
and I try, and I try...