terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

INVERÇÃO DA LÓGICA DAS COISAS


Todo ano, a Igreja Católica no Brasil realiza, pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e por ocasião do tempo da quaresma, a Campanha da Fraternidade. Nos últimos anos, vários temas foram de cunho ecumênico. Mas todas elas, desde 1964, são realizadas num espírito de abertura para além das fronteiras da própria Igreja.
Nos últimos tempos, se prestarmos atenção, essas campanhas, dentro de um contexto da doutrina social da Igreja, foram o “carro chefe” para amplas discussões que levaram o governo nas suas diversas esferas a criar políticas públicas favoráveis a várias camadas da sociedade que tinham seus direitos humanos sonegados. Podemos citar: as crianças, os jovens, os idosos, as mulheres, os deficientes, os negros, índios, etc. Mas se muito foi feito, muito há que se fazer. Os direitos humanos estão longe de serem amplamente respeitados no Brasil.
Nesse sentido, a Igreja trabalha todo ano, nas bases, uma pesquisa e escolhe um tema de importância social para se tornar o mote da campanha da fraternidade. Esse ano, ela escolheu a juventude. Aqui ela se propõe a olhar a realidade dos jovens, acolhendo-os com a riqueza de suas diversidades, propostas e potencialidades; entendê-los e auxiliá-los neste contexto de profundo impacto cultural e de relações midiáticas; fazer-se solidária em seus sofrimentos e angústias, especialmente junto aos que mais sofrem com os desafios dessa mudança de época e com a exclusão social; reavivar o potencial de participação e transformação. Eis o objetivo dessa campanha para os jovens, com os jovens e com todos aqueles que acreditam que os jovens não são o futuro, mas o presente dessa sociedade.
Embasada em estudos e pesquisas sérias, a Igreja elabora um documento chamado texto-base e o oferece ao povo como subsídio para uma reflexão acurada da realidade em debate. Vale ressaltar, neste caso, os impactos da mudança de época sobre os jovens na atualidade.
Nossa era é marcada por intensas e profundas mudanças. Depois de uma longa “época de mudanças” se fala hoje de uma “mudança de época”. Pode parecer a mesma coisa, mas não é. A mudança de época inverte a lógica das coisas enfraquecendo e alterando muitos dos paradigmas tradicionais que sustentavam certa visão de mundo.
Não se trata de uma mudança aqui e outra ali; ou de algumas pessoas que mudam seu modo de pensar ou simples costumes alterados. Trata-se de uma mudança de mentalidade fruto da globalização em que todos são afetados por tudo o que acontece em qualquer lugar. Modifica-se por completo o ser humano e seu respectivo lugar na sociedade.
Neste caso as tradicionais maneiras de compreender o mundo e a maneira de bem viver que serviram de orientação para as pessoas por muitos séculos, sobretudo no Ocidente, já não são aceitas pelas novas gerações. Assim as tradicionais instituições como a igreja, a escola, a família, os modelos econômicos e políticos que até então pareciam perenes na sua credibilidade e forma de conduzir a sociedade estão profundamente questionados.
Essa tradição cultural se fragmentou e deu lugar a uma diversidade de novas visões do mundo e da vida, de estruturações sociais, de relação com o sagrado e de modelos antropológicos: “vivemos uma mudança de época e seu nível mais profundo é o cultural”. “Dissolve-se a concepção integral do ser humano, sua relação com o mundo e com Deus”.
Os especialistas deixam claro que, dessa forma, onde outrora existiam valores e critérios que definiam dada realidade ou modo de proceder, agora há uma diversidade de propostas aceitas como válidas, num contexto de abertura a experimentações. Portanto, a expressão “mudança de época” procura conceituar a etapa da história porque passamos em que se faz a transição de uma cultura estável para outra nova e ainda não estabilizada. A cultura estável parece não responder ao momento histórico que já é a passagem para outro momento. Analise seus filhos adolescentes e jovens, seus netos, seus alunos ou as novas gerações com quem você convive e verá que eles refletem uma nova cultura, uma nova sociedade. Estamos vivendo outro momento histórico e, consequentemente, somos afetados por tudo que o caracteriza. É preciso serenidade e responsabilidade porque um novo ser humano está sendo gestado. Pois o que somos já sabemos, mas o que seremos depende de nós.

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