quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

IGREJA CATÓLICA DE MONTES CLAROS APOSTA NA EVANGELIZAÇÃO DA JUVENTUDE


A renúncia do Papa Bento XVI, que ocorre oficialmente hoje (28/02), tem provocado ampla discussão na sociedade e na própria instituição sobre os rumos a serem tomados numa época marcada pelo individualismo e pela racionalidade. A situação tem reflexo em todas as paróquias. Em Montes Claros, religiosos, especialistas e fiéis são unânimes em afirmar que o momento representa uma oportunidade de reflexão. A cidade, assim como outras regiões do País, registra uma redução no número de católicos. Segundo o Censo 2010 do IBGE, a queda foi de 9,2%: em uma década, o número de montes-clarense que se declarou católico caiu de 73,70% para 64,53%.
Dom José Alberto Moura
 O arcebispo de Montes Claros, dom José Alberto Moura, diz que, no mundo todo, o grande desafio é vencer a secularização, o materialismo e a oposição ao sentimento religioso. No entanto, ele diz que esse não é o principal problema local. "Estamos em uma cidade com muitas pessoas de fora. Por isso, o nosso grande desafio é desenvolver novos métodos de evangelização que atendam a essas pessoas". O arcebispo acrescenta que o mundo universitário e jovem também "precisa ser evangelizado".
Sob o olhar do padre Fernando Soares Almeida, coordenador da pastoral universitária da Arquidiocese de Montes Claros, focar em números não é a melhor solução: "Temos que transmitir a mensagem de forma que encante fiéis. Uma religião firme, segura, mas sem proselitismo".
Além da Igreja tradicional, que se baseia em missas, grupos de oração e nas pastorais, hoje há novas correntes, que foram criadas depois do Concílio Vaticano II, de 1962. Entre estes movimentos, alguns têm conseguido levar centenas de pessoas às celebrações semanalmente, como a Renovação Carismática. A corretora de imóveis Valéria Machado, 44 anos, há dois anos recuperou a fé. Segundo ela, após passar por um momento difícil. Primeiro vieram os grupos de oração, em seguida as missas carismáticas, hoje ela faz parte do movimento carismático e está no chamado caminho vocacional. "Deus prende mais do que qualquer coisa, aqui aprendi a viver a santidade e a sentir a presença dele".
No entanto, aqueles que não fazem parte de movimentos como este têm críticas à Igreja. É o caso do empresário Flávio Souza, 58 anos, nascido em família católica. Ele diz ter deixado de frequentar missas há oito anos por acreditar que o modelo e as ideias adotados pela instituição não se encaixavam mais no seu modo de pensar. "Não dá mais para ignorar que o mundo mudou. Se a religião não acompanha, eu não sou obrigado a concordar", explica.
Para o antropólogo e doutor em ciências da religião, Emerson José Sena, as características do Movimento Carismático se adéquam às demandas da sociedade. "Os elementos trabalhados estão muitos próximos do mundo atual. A ideia da emoção, do sentimento, da questão da fé e da escolha pessoal, da individualidade, do sentir Deus no coração é recorrente nos discursos carismáticos. A famosa experiência pessoal com Jesus está muito envolvida com a religiosidade moderna", revela Sena.
Para ele, apesar da abertura para esses novos grupos, a Igreja cobra a fidelidade institucional. A participação de autoridades religiosas nesses espaços é uma forma de legitimar a sua autoridade. "Do ponto de vista prático, cada movimento desses - o carismatismo, o progressismo, o de libertação - tem uma outra visão do que é ser católico. No dia a dia, a Igreja precisa lidar com esses grupos, às vezes, possibilitando, às vezes, reprimindo, às vezes negociando”, garante Emerson Sena. 
Padre jairo da Silva Queiróz
As mudanças que visam atrair fiéis a qualquer preço são vistas com cautela pelo padre Jairo da Silva Queiróz, recentemente transferido para Montes Claros e oriundo da Paróquia São Sebastião, de Capitão Enéas. "A Igreja não tem que mudar, promovendo a liquidação da fé ou a maquiagem. Vamos encher a Igreja se começarmos a espalhar a teologia da prosperidade e fazermos exorcismo. Mas essa não é a linguagem da Igreja Católica".
Independente dos grupos de renovação ou tradicionais existentes na religião, uma das esperanças é a juventude. "Os jovens têm um desejo muito grande de viver a sua fé. O problema é que esta força não cabe dentro da estrutura que nós oferecemos. Então, eles têm que construir o futuro de nossa Igreja, pensar as transformações", acredita o padre Vicente de Paula Ferreira, responsável pela Congregação Redentorista na província formada por Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo. Ele acrescenta, no entanto, que é necessário não se esquecer da experiência e do testemunho dos mais velhos.
Para o coordenador da Pastoral da Comunicação da Arquidiocese de Montes Claros, padre Antônio Brígido de Lima, a juventude não se resume somente em futuro. "Temos que tentar olhá-la agora, pois ela traz muitas propostas boas que a Igreja precisa urgentemente". A alegria, a disposição e a garra dos jovens seriam esses benefícios que, segundo o religioso, não podem faltar na caminhada eclesial. Segundo o Censo 2010, Montes Claros tem mais de 73 mil fiéis jovens, na faixa entre 10 e 24 anos, ficando atrás dos grupos de adultos e idosos.
No intuito de atrair a juventude, a Arquidiocese de Montes Claros tem investido na formação de grupos paroquiais. "Eles refletem sobre a realidade, no esquema ver, julgar e agir: ver os problemas, julgar o que pode ser feito e agir para tornar a sociedade mais justa", explica o arcebispo dom José Alberto Moura. O religioso destaca ainda o investimento na Pastoral Universitária, em um espaço específico para lidar com a juventude, além de um religioso responsável. 
Padre Antônio Brígido de Lima
Um das ações da instituição, desta vez no âmbito mundial, é a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), um encontro internacional dos jovens com o Papa, que acontece a cada dois ou três anos. Em 2013, o evento será no Rio, entre 23 e 28 de julho. No entanto, o padre Fernando Almeida explica que a JMJ começa uma semana antes, nas dioceses de todo Brasil, com a Semana Missionária. Em Montes Claros, são esperados até três mil jovens, sendo muitos destes vindos de outras cidades da região.
Com relação ao novo Papa, vários segmentos da sociedade local demonstraram a expectativa pela eleição de um latino-americano ou africano, principalmente por aqueles que desejam uma maior abertura da instituição para questões polêmicas, como a da homossexualidade, do uso de métodos contraceptivos e do papel das mulheres. Entretanto, o teólogo Faustino Teixeira reforça que, apesar de o número de fiéis estar concentrado na América Latina e África, a maioria dos cardeais é do eixo Norte. E, mesmo que esse desejo se efetivasse, não significaria a abertura da Igreja. "Os cardeais latino-americanos não são necessariamente abertos. Na verdade, a maioria é alinhada à lógica restauradora".
O padre Jairo Queiróz lembra a necessidade de paciência para evitar decisões precipitadas. "Não diria que a Igreja deve ou não mudar de opinião. Deve-se amadurecer à luz da fé. Ninguém toma grandes decisões em tempos de crise da sociedade. É necessário o amadurecimento dialogal".
Enquanto a discussão se intensifica, migrações religiosas acontecem de forma intensa em Montes Claros e por todo País. Segundo Faustino Teixeira, também existe uma tendência do crescimento do movimento dos sem religião. Sendo esse último umas das preocupações do arcebispo da Arquidiocese de Montes Claros, dom José Alberto Moura. "Com a indiferença religiosa, as pessoas perdem as referências éticas, o que traz riscos para a humanidade", explica.
"O momento é uma oportunidade de a Igreja repensar suas estratégias", avalia o antropólogo Emerson José Sena. A opinião também é compartilhada por Faustino Teixeira. "É preciso rasgar os corações para refundar a Igreja. Quem pode melhor exercer esse papel é um Papa que seja pastor e capaz de trazer um hálito vital diferente para a comunidade desgastada por tanto sofrimento e apatia. E que seja capaz de proferir palavras em sintonia com o tempo".
Para padre Fernando Almeida, a renúncia do Papa não significa que a Igreja Católica passa por crise. "Os desafios diante de uma época inusitada, pós-moderna, são muito grandes. O pontífice percebeu que os tempos exigem mais força, saúde e não só inteligência". Entretanto, a capacidade de mudança é lançada como um grande desafio, na opinião de Emerson Sena. "Temos que tomar cuidado para não entrar em um diálogo de surdos. Existe a cobrança, mas acredito que a Igreja Católica não vai se adequar à modernidade porque ela tem uma lógica atemporal".

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