terça-feira, 3 de março de 2015

PURO SENTIMENTO

Não tem nada mais dolorido que a saudade.
Nem uma cólica renal dói tanto.
Pedras nos rins ou na vesícula tem cura.
No coração, nem sempre.
Saudade é a presença constante da ausência, é tocar o vazio, é querer enfiar as próprias mãos no peito e arrancá-la dali.
Saudade é a falta de ar e do cheiro do outro.
É ter uma companhia constante da dor.
É uma insônia diurna.
Saudade é uma palavra tão bonita, exclusividade da língua portuguesa.
Saudade nunca é boa, mas pode ser branda, desde que tenha uma validade.
Saudade é um sentimento puro, filho do amor e irmão da vontade.
Saudade gera impulso, nervosismo e ansiedade.
Saudade é se consolar em fotos, é namorar o vinho, curtir a solidão.
É assinar um compromisso com o vazio.
Existe um lado bom na saudade, afinal a falta só existe quando algo já preencheu.
A saudade nada mais é do que a materialização das lembranças.
Deitar no travesseiro e sentir o perfume dela; ligar a primeira estação do rádio e tocar a música do romance; passar em frente a um lugar que foi testemunha de tantos momentos importantes.
Tudo isso dá uma saudade.
Saudade de quem perdemos é doença incurável.
Bom seria tomar uma pílula de esquecimento, mas não há remédios para o inesquecível.
Para essa saudade só existe um antídoto: um novo olhar.
Ninguém resiste àquele encantamento inicial, dos primeiros dias.
Quando isso acontece, estamos matando a saudade de nós mesmos, de estarmos vivos mais uma vez.
Saudade de quem temos, mas está longe, é a melhor e a pior saudade.
É amor virtual, sexo dos anjos, paixão platônica correspondida.
O telefonema alivia, o desligar angustia.
A foto emociona e as lágrimas são indecisas, deixam os olhos com um sorriso na identidade, mas tocam o rosto em gotas de tristeza.
A noite é uma inevitável inimiga.
O relógio, um terrível adversário.
O amanhecer, um amigo sincero, de que mais um dia passou e outro está recomeçando.
A saudade diária é a saudade dos sonhos.
Quando se ama, dá saudade até mesmo do abraço, da cama, da convivência.
A saudade não está apenas na distância.
Ter saudade é não querer se afastar.
É o medo do adeus.
É apertar o outro contra si, tentando acalmar o coração.
Sentir saudade é estar vivo, é amar demais.
Saudade não morre.

Saudade se mata.

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