A grande felicidade é a soma das pequenas felicidades.
Li essa frase ano passado em um outdoor aqui em Montes Claros
e soube, naquele momento, que meu conceito de felicidade tinha acabado de
mudar.
Eu já suspeitava que a felicidade com letras maiúsculas não
existia, mas dava a ela o benefício da dúvida.
Afinal, desde que nos entendemos por gente aprendemos a
sonhar com essa felicidade no superlativo.
Mas ali, vendo aquele outdoor estrategicamente colocado no
meio do meu caminho (que de certa forma coincidia com o meio da minha
trajetória de vida), tive certeza de que a felicidade, ao contrário do que nos
ensinaram os contos de fadas e os filmes de Hollywood, não é um estado mágico e
duradouro.
Na vida real, o que existe é uma felicidade homeopática,
distribuída em conta-gotas.
Um pôr-do-sol aqui, um beijo ali, uma xícara de café
recém-coado, um livro que a gente não consegue fechar, uma mulher que nos faz
sonhar, um amigo que nos faz rir…
São situações e momentos que vamos empilhando com o cuidado
e a delicadeza que merecem alegrias de pequeno e médio porte e até grandes
(ainda que fugazes) alegrias.
‘Eu contabilizo tudo de bom que me aparece’, me relata com
frequência a Fabiana Gomes, minha amiga de infância, também adepta da
felicidade homeopática. ‘Se o zíper daquele vestido que eu adoro volta a fechar
(ufa!) ou se pego um congestionamento muito menor do que eu esperava, tenho
consciência de que são momentos de felicidade e vivo cada segundo’.
Já a jornalista e minha colega de profissão Márcia Eleutério
contou-me em rápida conversa durante recente evento social aqui na cidade que
cresceu esperando a felicidade com letras maiúsculas e na primeira pessoa do
plural: ‘Eu me imaginava sempre com um homem lindo do lado, dizendo que me
amava e me levando pra lugares mágicos’. Agora, viajando com freqüência por
causa de seu trabalho, ela descobriu que dá pra ser feliz no singular: ‘Quando
estou na estrada dirigindo e ouvindo as músicas que eu amo, é um momento de
pura felicidade. Olho a paisagem, canto e sinto um bem-estar indescritível’.
A empresária Goretti Aparecida, que conheci recentemente, me
contou que há alguns dias estava falando e rindo sozinha quando o marido chegou
em casa. Assustado, ele perguntou com quem ela estava conversando: ‘Comigo
mesma’, respondeu. ‘Adoro conversar com pessoas inteligentes’. Criada para
viver grandes momentos, grandes amores e aquela felicidade dos filmes, a
empresária trocou os roteiros fantasiosos por prazeres mais simples e aprendeu
duas lições básicas: que podemos viver momentos ótimos mesmo não estando
acompanhadas e que não tem sentido esperar até que um fato mágico nos faça
felizes.
Esperar para ser feliz, aliás, é um esporte que abandonei há
tempos.
E faz parte da minha ‘dieta de felicidade’ o uso
moderadíssimo da palavra ‘quando’.
Aquela história de ‘quando eu ganhar na Mega Sena’, ‘quando
eu me casar’, ‘quando tiver filhos’, ‘quando meus filhos crescerem’, ‘quando eu
tiver um emprego fabuloso’ ou ‘quando encontrar uma mulher que me mereça’.
Tudo isso serve apenas para nos distrair e nos fazer
esquecer da felicidade de hoje.
Como tantos já disseram tantas vezes, aproveitem o momento.
E quem for ruim de contas recorra à calculadora para ir
somando as pequenas felicidades.
Podem até dizer que nos falta ambição, que essa soma de
pequenas alegrias é uma operação matemática muito modesta para os nossos
tempos.
Que digam!
Melhor ser minimamente feliz várias vezes por dia do que
viver eternamente em compasso de espera.
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