MENOR EM CONFLITO COM A LEI
A nossa coluna de hoje (06/12) aborda um tema em que muitas pessoas não gostam de discutir, mas que é real e precisa ser encarado de frente por todos os segmentos da sociedade. Abaixo a nossa opinião sobre o assunto:
PUNIÇÃO É A ALTERNATIVA?
O crescente envolvimento de adolescentes com atos
infracionais obriga Montes Claros e o Estado de Minas Gerais a repensarem a
qualidade das medidas socioeducativas que estão sendo oferecidas para quem
cometeu o crime. Por trás do discurso coletivo da impunidade atribuída a esses
jovens está a omissão de muitos atores sociais que antes de punir não
conseguiram cuidar. O fato é que esses rapazes, em geral, só ganham
visibilidade para o Poder Público quando se tornam autores de crimes, embora
toda a trajetória anterior de violações a quais foram submetidos não tenha sido
objeto de intervenção.
AÇÕES DEMORADAS
O atraso na aplicação das medidas que visam à ressocialização
é outro problema que reforça a sensação de impunidade. Há infrações que só
chegam ao conhecimento do Judiciário três anos depois da data em que foram
cometidas, resultando na aplicação de medidas tardias e até no arquivamento do
processo, obrigatório quando o envolvido completa 21 anos. Com isso, o jovem
perde a chance de passar por um processo socioeducativo A resposta imediata
ao ato praticado, com técnicas e métodos pedagógicos, além de confrontar o
adolescente com suas responsabilidades, permite reinseri-lo no contexto
familiar e social, prevenindo a reincidência de delitos.
PRIVAÇÃO DE LIBERDADE
Apesar de a impunidade da juventude estar presente no
imaginário social, as estatísticas mostram exatamente o contrário. A privação
de liberdade de adolescentes mais que dobrou no País se comparada à de adultos.
Na última década, o contingente saltou de 8.579 para 17.703, conforme estudo da
Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República do ano passado.
Apesar de ser o País que mais acautela seus jovens, a falta de qualidade do
atendimento tem comprometido a eficácia da medida. Para a ministra Maria do
Rosário, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH), o
Estado precisa estar focado nas necessidades desses adolescentes, sabendo quem
ele é, de onde vem, suas prioridades educacionais e familiares, a fim de adotar
medidas que apoiem a reinserção social do jovem que cometeu infração.
"Quando o adolescente incide em situações de atos infracionais, ele tem
que responder por isso, mas também deve ter uma oportunidade de mudar sua
perspectiva de vida", afirmou a ministra durante recente entrevista ao
portal da Agência de Notícias dos Direitos da Infância (ANDI).
VULNERABILIDADE
Apesar de as propostas de redução da idade penal se sustentarem
na exceção, pois o percentual de adolescentes autores de crimes de homicídio é
minoria entre os adolescentes internados no País, pelo menos quatro entre cinco
brasileiros concordam com a redução da maioridade penal para 16 anos. A
proposta está na contramão do que discute a comunidade internacional, que tende
a diminuir a severidade das respostas penais, a fim de reduzir seus efeitos
negativos, buscando alternativas de maior sucesso, como a justiça restaurativa.
Além disso, muitos países que adotaram a medida não conseguiram reduzir a
incidência de crimes nessa faixa etária da população, pois a associação da
violência com elementos como a desigualdade social, o racismo, a concentração
de renda e a insuficiência de políticas sociais não se resolve com adoção de
leis penais mais severas e, sim, exigem medidas de natureza social que diminuam
a vulnerabilidade de adolescentes diante do crime e da violência, conforme
observa o Unicef.
AVALIAÇÃO DE EFETIVIDADE
A restauração tem uma perspectiva pedagógica, porque fornece
um sentido mais objetivo de responsabilidade, já que visa a enfrentar e reparar
as consequências. A punição é uma estratégia, não uma necessidade. Aliás, uma
estratégia que não funciona. Talvez satisfaça num primeiro momento o sentimento
de quem quer vingança, mas cujos resultados não resistem a uma avaliação de
efetividade. Os desdobramentos são sempre para pior. Pensar nas consequências é
ser responsável. Ser restaurativo é pensar e promover responsabilidade. Nossa
necessidade é de responsabilidade, respeito, segurança. São valores universais
sobre os quais todos estaremos em consenso. Nossas divergências, racionalmente,
nos remeterão apenas à discussão de estratégias. Punição é estratégia,
reparação do dano é estratégia. A necessidade é segurança pública. Como a
alcançaremos? Há outras vias que podem ser mais efetivas.
Responsabilizar-se é diferente de ser responsabilizado. É um
movimento de dentro para fora, e de baixo para cima. É fazer com que o jovem
assuma compromissos para reparar os danos que causou à vítima, à família dela,
à família dele mesmo, à sua comunidade, diferente do modelo punitivo, em que as
soluções são impostas por terceiros, num modelo de heteronomia. No momento em
que não tiver ninguém olhando, controlando, fiscalizando, ameaçando, seja ele
pai, professor, guarda da rua, como não há sentido de norma interna, o sujeito
não respeita mais nada e mais ninguém, porque foi educado para a heteronomia,
não para a autonomia.
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