sexta-feira, 14 de outubro de 2011

HORÁRIO DE VERÃO

Quem já leu duas ou três notícias sobre o horário de verão deve ter notado que as informações são resumidas, incompletas, confusas e freqüentemente contraditórias. Uma pesquisa no Google pode mostrar isso. Resolvi então fazer o trabalho que jornalistas preguiçosos dos órgãos de mídia nacional não fizeram e fui até o site do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) estudar por conta própria os relatórios de análise dos resultados do horário de verão (que, aliás, não são muito claros) para responder eu mesmo minhas perguntas.



P: Quem foi o fdp que inventou o horário de verão?
Os estadunidenses afirmam que foi Benjamin Flanklin, em 1784, mas sabe como é: segundo eles mesmos, tudo foi inventado por eles. Quem quiser saber mais sobre o funcionamento e a história do horário de verão pode ler a página da Zênite.  Agora vou procurar analisar o horário de verão apenas sob o aspecto econômico.
O horário de verão foi adotado esporadicamente até a década de 60, ficando então esquecido até 1985 quando foi re-editado pelo ex-presidente José Sarney. Desde então, o horário de verão tem sido adotado todos os anos por todos os presidentes.

P: Quantas pessoas são afetadas pelo horário de verão?
O horário de verão atinge as regiões Sudeste, Centro-Oeste e Sul, ou seja, os estados de RS, SC, PR, SP, RJ, ES, MG, GO, MT e MS mais o Distrito Federal, afetando cerca de 115 milhões de pessoas durante quatro meses (foram 126 dias neste último HV de 2010/2011).

P: Algumas reportagens afirmam que a economia com o horário de verão foi de R$ 10 milhões, outras de R$ 40 milhões e algumas até falam em US$ 1 bilhão!
Afinal, qual a economia obtida com o horário de verão?
Este ano a economia foi de R$ 10 milhões. O valor esperado era R$ 40 milhões, porém algumas usinas termoelétricas extras tiveram de ser ligadas por conta do baixo nível dos reservatórios das hidroelétricas, diminuindo assim a economia.
Detalhe: essa economia de R$ 10 milhões é uma economia obtida com geração térmica. Isso significa que essa minúscula economia só se obtem porque são usadas usinas térmicas que custam mais que hidroelétricas (custa mais caro produzir energia a partir de usinas térmicas do que de hidroelétricas).

P: Isso significa que se tivéssemos somente usinas hidroelétricas a economia seria tão pequena que não compensaria?
Exatamente. Por ser uma energia barata. Se tivéssemos usinas em número suficiente, produzindo mais energia do que gastamos, o horário de verão não seria necessário.
Outra alternativa seria descobrir um meio de produzir energia a partir das bobagens  que nossos governantes falam, assim teríamos uma fonte quase inesgotável de energia barata.

P: Por que o governo não constrói mais hidroelétricas?
Porque está ocupado demais gastando nosso dinheiro com outras coisas como mensalões, programas assistencialistas eleitoreiros, cartões de crédito corporativos, obras inúteis superfaturadas, salários absurdos para parlamentares, etc.
Além disso, o Ibama e outros órgãos controlados por fundamentalistas têm feito de tudo para dificultar a concessão de licenças para a construção de novas usinas.

P: De onde tiraram aquele valor de US$ 1 bilhão (atenção: dólares, não reais) citado em algumas reportagens?
Alguns jornais informaram que a economia com o horário de verão teria sido de US$ 1 bilhão,. Porém, a informação correta é que os 2.027 MW, economizados com o horário de verão, equivalem à produção de duas térmicas a gás natural. Portanto, o governo teria economizado US$ 1 bilhão por não ter precisado construir as referidas térmicas. Na prática, a economia foi de R$ 10 milhões. É o mesmo que pegar um táxi e afirmar orgulhoso que, com isso, economizou R$ 10 mil (por não ter comprado um carro).


P: A economia em termos percentuais citados nas reportagens também varia muito. Umas falam em 0,5% outras em 4% ou 5%. O que acontece?
No fim do dia a maioria das pessoas sai do trabalho, chega em casa, acende as luzes, vai tomar banho, prepara o jantar e fica assistindo TV até ir dormir para mais um dia. Esse período das 19 às 22 horas é o horário de pico de consumo.
Observando os gráficos do ONS vemos que o consumo de energia ao longo do dia durante o horário de verão é praticamente igual ao consumo se não houvesse horário de verão, uma economia média de desprezíveis 0,5% aproximadamente.
No horário de pico, somente, a economia atinge pífios 4% ou 5% em média.
 

P: Se essa economia de R$ 10 milhões fosse dividida pelas 115 milhões pessoas afetadas, daria R$ 0,09 para cada um. Será que se todos nós déssemos nove centavos ao governo seríamos poupados dessa encheção de saco?
Infelizmente, não!
Porque não é pela economia, mas porque o sistema não tem a energia necessária para nos fornecer no horário de pico.

P: Que tal uma analogia prá ficar mais claro?
Imagine uma família composta de pai, mãe, 8 filhos e um fusca. Não dá para levar todos os filhos para a escola de manhã. Então o pai matricula quatro filhos de manhã e quatro à tarde. Assim, os filhos se revezam no uso do carro. E o pai declara, orgulhoso, que assim fez uma economia de R$ 50 mil (pois não teve de comprar um carro maior).

P: Isso quer dizer que provavelmente a minúscula economia não compensaria o transtorno?
O transtorno a 115 milhões de pessoas e eventuais danos à sua saúde não entram na contabilidade do governo por motivos óbvios.
Mas, na minha opinião, não compensa.

P: Qual a economia em termos de energia?
Cerca de 2.000 megawatts, o suficiente para abastecer dois milhões de casas ou uma cidade como o Rio de Janeiro.

P: Existe alguem que gosta do horário de verão?
É como quiabo, sempre tem quem goste.
Dizem que alguns moradores de cidades litorâneas gostam, pois podem ficar uma hora a mais na praia. Se isso é verdade, então essa hora extra de sol na cabeça deve ter feito mal.

Conclusões
1) O horário de verão é apenas um paliativo, um quebra-galho sem-vergonha, típico de governos incompetentes que não fazem o que deveriam: construir usinas que supram toda a demanda nacional, e com folga.
2) Eu detesto horário de verão!



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