Estar solteiro é namorar com a vida.
Ganhar asas e sair por aí
planando e degustando a liberdade.
O solteiro depende apenas do
acaso, da vontade do corpo, do desejo por se apaixonar.
É na corda bamba do flerte que o
solteiro caminha.
É no abismo do amor que ele evita
quedas.
Em vão.
A solteirice é um vão de alegria
esperando a felicidade.
Logicamente estou falando do
solteiro convicto, por opção, sem traumas.
Aquele avulso pelo abandono
poderá alcançar um sorriso com o passar dos dias, mas não o fará imediatamente.
Precisará aprender a lidar com a
vida singular, que já fora plural.
Para quem se depara com o
desimpedimento indesejado, a liberdade é uma prisão.
Não há como imaginar qualquer
resquício de alegria, mesmo acompanhado.
Qualquer união será solidão se
não tivermos a pessoa amada ao nosso lado.
Estar com o coração livre permite
viver numa dimensão diferente.
Ignoramos o calendário e
amanhecemos bêbados numa terça-feira qualquer.
Desbravamos bocas e corpos, em
busca de novas descobertas, fomentamos paixões, nem sempre com a intenção de
correspondê-las.
Queremos a confusão dos gestos, a
troca de palavras insanas.
Desafiamos o sentido da perdição,
inventamos um novo significado para a loucura.
A solteirice nos faz
adolescentes, independente de faixa etária.
Existe um prazo de validade para
o solteiro.
Alguns se adaptam tão facilmente
que permanecem anos comprometidos apenas consigo.
Parceria quase eterna com o
travesseiro e o forno de micro-ondas.
Quanto mais o tempo passa, mais
aumenta o receio de dividir a mesa do café e as chaves da casa com alguém.
Parece assustador descobrir
pertences alheios no lar, como brincos esquecidos, blusas perfumadas ou toalhas
que até eram suas, mas nos últimos meses tem sido usada apenas por ela.
É uma aproximação quase
imperceptível, natural ao ser humano.
Não nascemos para uma vida ímpar.
O sonho do solteiro é ter a sua
condição ameaçada por uma paixão.
O solteiro deseja voltar para a
vulnerabilidade de se encantar com uma mensagem indevida de madrugada, uma
conversa furtiva nos corredores da empresa, um olhar maroto que esconde
vontades, mas que revela páginas em branco de uma história a ser escrita a
partir de um beijo.
O drama do solteiro é ter de
retornar para a cama fria e para a geladeira vazia.
Ser solteiro é bom, mas dura o
tempo que um espaço leva para ser preenchido.
Estar solteiro é a busca
constante por companhia, é a solidão irresponsável querendo sossego, é um
passeio insano pelas curvas do destino.
Sem rumo, perdido, tentando
encontrar algum sentido para aproveitar a vida de forma liberta, porém isolada.
Toda felicidade é efêmera.
A do solteiro é eterna, mas um
dia acaba.
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