As pessoas andam muito chatas.
Ou então sou eu que ando muito
chato.
Não, eu não! Tenho certeza
absoluta de que continuo legal como sempre fui.
Mas então de onde foi que saiu
essa moda esquisita de toda e qualquer declaração de qualquer pessoa, postada
principalmente no Facebook, ter que ser sumária e imediatamente rechaçada e
criticada?
Digamos que você poste em algum
lugar que vai tomar uma xícara de café.
Em dois segundos, alguém comenta:
– “Mas não é com açúcar não, né? Açúcar
faz um mal danado”.
É o que basta para soar o gongo
do MMA virtual, com discussões que beiram o bizarro (porque ninguém quer ouvir
ou conversar sobre as ideias, a manha é berrar seu ponto de vista e ganhar o
bate-boca na marra).
O curioso é que o manjado
triunvirato de antanho – futebol, religião e política – não é mais o único
vilão. Qualquer assunto tem o potencial de virar polêmica.
E aí é que tá! Você nunca vai
saber sobre qual tema é seguro conversar.
Parece que tá todo mundo na vibe
daquele colega de república de um tio meu, irmão de meu pai, que foi estudar
engenharia em BH.
Este meu tio foi para a capital
nos anos 60 para ser engenheiro.
Morava em uma pensão com outros
rapazes e todos, como ele, estudantes de engenharia. E só um estudante de direito.
Todos os dias, durante o café da
manhã, esse aspirante a advogado iniciava uma discussão sobre o valor nutritivo
da farinha de mandioca. Todos os dias e, se não tivessem que ir pra faculdade,
eles poderiam ficar naquele bate-boca durante horas.
Um belo dia, cansado daquilo, um
dos estudantes resolve por um ponto final naquela confusão toda:
– “Escuta aqui. Você não sabe absolutamente
nada sobre esse assunto. Você não estuda medicina, não entende nada sobre
nutrição. Só fica aí discutindo e falando um monte de coisas. O que um
estudante de direito sabe sobre valor nutritivo da farinha de mandioca, hein?”.
– Eu? Não sei nada, não. Estou pouco ligando pra farinha de mandioca. Eu
estou interessado mesmo é na discussão. Eu estudo direito, estou praticando
argumentação e retórica”, retrucou o aspirante a advogado.
O tema nunca mais foi abordado
durante as refeições…